Das calúnias dos homens: com um catálogo das espanholas que mais se destacaram nas ciências e nas armas
Em meio à polêmica causada pelo ensaio Em defesa das mulheres, que integra o Teatro crítico universal, obra de caráter enciclopédico do filósofo beneditino Jerónimo Feijoo y Montenegro, surgiram na misógina Espanha do século XVIII um sem número de livros e artigos contra e a favor das mulheres. Entre estas últimas publicações merece destaque esta obra, de Juan Bautista Cubíe, publicada em Madri em 1768, a qual permaneceu por gerações como uma síntese da memória da contenda. Cubíe, um erudito, criticava os preconceitos e as maledicências contra as mulheres, com base em conhecimentos de história e filosofia antigas, além de textos bíblicos, ressaltando que sua defesa não implicava um ataque aos homens. Para comprovar seus argumentos, ele arrolou, na última parte do livro, um repertório biográfico de mulheres ibéricas que se destacaram nas letras, ciências e armas.
Há poucas referências pessoais sobre Juan Bautista Cubíe. Sabe-se apenas que viveu na segunda metade do século XVIII e que, além de erudito, foi funcionário da Real Biblioteca do Palácio de Oriente, em Madri. Ao lado de sua Defesa das mulheres editou em vida um Semanário Econômico (1765-1767) que, em estilo comum à época, cobria uma ampla miscelânea de assuntos técnicos e científicos.
As ideias universalistas devem recuperar seu poder mobilizador e crítico: contra a ditadura das emoções e opiniões, defenda-se a razão científica; contra o império das identidades, deve ser reconstruída uma ética da igualdade e da reciprocidade. “Esta é a ambição deste livro: devolver às ideias universalistas toda a sua potência crítica e mobilizadora. O que importa, hoje, é reapropriar-se das ideias das Luzes, fundamentar para a nossa época essas ideias depreciadas pela nossa própria época – que, no entanto, precisa mais do que nunca delas. Assentar esses conceitos desvalorizados sobre uma base sólida. O norte continua no mesmo lugar. A bússola é que falhou.”
Pelo seu próprio papel questionador dos contextos sociais em que todo ser humano está inserido, a sociologia é uma ciência que recebe as mais diversas críticas, sendo acusada, por exemplo, de alienação de sérios problemas sociais ou de tratá-los de maneira excessivamente abrangente ao se valer de outras áreas do conhecimento. Nesta coletânea de artigos, Giddens, professor titular de Sociologia na Universidade de Cambridge, Inglaterra, sai em defesa de seu campo de conhecimento. Explica o que vem a ser uma ciência social e analisa as obras de Augusto Comte e Jürgen Habermas, entre outros sociólogos de renome.
Este livro inscreve-se em uma perspectiva pouco usual nos estudos sobre as mulheres na história. Susani Silveira Lemos França não se propõe revisitar os documentos produzidos pelos viajantes cristãos em direção ao Oriente, entre os séculos XIII e XV, com a finalidade de desvelar a opressão de gênero ou as desigualdades das relações entre os sexos. Sem tirar o inquestionável mérito das investigações que desnudaram o papel social da mulher ao longo da história, este trabalho tem a particularidade – e nisso está sua principal virtude – de explorar os potenciais dos simbolismos dos sexos em uma perspectiva não essencialista. O objeto principal da obra são justamente as nuances do olhar do homem cristão sobre mulheres observadas de longe, por vezes, até com indiferença. A autora lembra historiadores como Georges Duby e Christiane Klapisch-Zuber, os quais, ao investigarem as mulheres medievais, acabaram por saber mais sobre os homens daquela época, uma vez que eram eles que construíam a narrativa sobre o sexo oposto. Susani Silveira Lemos França acrescenta, porém, uma complexidade nesse entendimento: o que o discurso dos homens cristãos pôde revelar quando tratou das mulheres de terras remotas? A partir de contraposições e paralelos, surge assim uma narrativa que explora os significados dos relatos construídos pelos viajantes sobre mulheres que, embora não lhes fossem próximas, eram descritas a partir do conhecimento daquelas de suas terras. Os relatos analisados cobrem um amplo espectro geográfico – da China ao norte da África, por exemplo – e temporal, mas o que se investiga neles não são suas dessemelhanças, e sim aquilo que os unifica, sua constância: o referencial da mesma fé cristã. Daí que, em Mulheres dos outros, a singularidade de cada relato de viagem importe menos que as recorrências, pois estas compõem uma narrativa dos valores partilhados e das fórmulas bem aceitas no fim da Idade Média.
Em costas negras traz uma grande contribuição para a historiografia brasileira. Resultado de uma pesquisa sobre o tráfico atlântico de escravos, este livro retoma a perspectiva econômica e social para entender os complexos processos históricos brasileiros e atlânticos. Utilizando-se de vasta fonte documental – como listagens dos navios negreiros, testamentos e registros eclesiásticos –, Manolo Florentino propõe uma instigante análise do tráfico de africanos para o Rio de Janeiro dos séculos XVIII e XIX, oferecendo novos elementos para compreender a migração compulsória que, por mais de três séculos, representou uma das bases da formação histórica brasileira.
El Cid é um dos mais importantes mitos da história da Espanha. Ao morrer, em 1099, era não só um homem de reconhecida fama, mas um guerreiro vitorioso, que inspirou um dos textos fundadores da língua espanhola, o Poema de mio Cid. Professor de História Medieval na Universidade de York, o autor contextualiza toda a saga do herói, desvendando o que há de lenda e de verdade nas numerosas histórias de um soldado sem pátria, que vendeu seu talento tanto para cristãos quanto para muçulmanos.